Assessores acusam Janones de ‘rachadinha’; PF investiga caso

28/11/2023 | Brasil

 

MPF apura denúncia desde 2021 – Foto Gilmar Felix/ Câmara dos Deputados

 

 

Assessores e ex-assessores do Deputado federal André Janones (Avante-MG) afirmam que o parlamentar operou um esquema de “rachadinha” no gabinete a partir de 2019, quando assumiu o primeiro mandato.

 

A rachadinha é uma prática ilegal na qual o gabinete de um parlamentar contrata funcionários, mas impõe a condição de que eles “devolvam” parte dos salários. Muitas vezes, são funcionários fantasmas, que nem vão aos gabinetes.

 

Segundo esses denunciantes, a prática foi adotada, pelo menos, durante todo o primeiro mandato de Janones (2019-2022).

 

E teria, também, sido adotada pela ex-assessora de André Janones Leandra Guedes na prefeitura de Ituiutaba (MG) – ela foi eleita prefeita do município em 2020 e levou parte dos assessores para compor sua equipe no novo posto.

 

Em razão do foro privilegiado de Janones, a denúncia tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) desde maio deste ano.

 

Janones e Leandra negam as irregularidades apontadas nas denúncias.

 

Leandra Guedes e André Janones em evento político, em imagem de redes sociais – Foto Instagram/Reprodução

 

 

“[…] usaram uma gravação clandestina e criminosa, um áudio retirado de contexto e para tentar me imputar um crime que eu jamais cometi. Aproveito para solicitar que o conteúdo criminosamente gravado seja disponibilizado na integra e não edições manipuladas, postada quase simultaneamente por todas as lideranças de extrema-direita”, disse Janones em uma rede social.

 

“Essas denuncias vazias nunca se tornaram uma ação penal ou qualquer processo, por não haver materialiade. Não são verdade, e sim escândalos fabricados. No mais, repito eu nunca recebi um único real de assessor, não comprei mansões, nem enriqueci e isso por uma simples razão, eu nunca fiz rachadinha”, prosseguiu.

 

“A prefeita Leandra Guedes, ex-assessora do deputado federal André Janones, informa que não tem conhecimento do conteúdo divulgado nesta segunda-feira (27) e jamais presenciou ou participou de qualquer conduta ilegal”, afirmou Leandra em nota.

 

Questionada pela TV Globo, a Polícia Federal disse que não poderia informar os avanços na investigação porque não comenta procedimentos em curso.

 

A primeira denúncia

 

A primeira denúncia foi feita por Fabricio Ferreira de Oliveira, que integrava o grupo político de Janones e trabalhou no gabinete entre fevereiro de 2019 e novembro de 2021.

 

Ao MPF em Minas, Oliveira disse que Janones recebia parte do salário de servidores comissionados lotados em seu gabinete em Brasília. O esquema seria operado pela então secretária parlamentar Leandra Guedes.

 

O agora ex-assessor anexou à denúncia uma gravação com outro assessor de Janones, Alisson Alves Camargos. No áudio, Alisson diz que recebia cerca de R$ 10 mil e que repassava, mensalmente, quase R$ 5 mil para “eles” – em referência a André Janones e Leandra Guedes.

 

“É quase cinco contos que eu passo pra eles. Nem nove mil tô tirando. Nove mil no papel, entendeu?”, diz Alisson. “É aquele mesmo esquema: dá o dinheiro pra Leandra, e ela passa pro André”, afirma em outro momento da gravação.

 

Novos áudios

 

Quando a primeira denúncia foi protocolada, os ex-assessores tinham como provas apenas conversas entre eles. Neste mês, no entanto, surgiram novos áudios que mostram o próprio deputado André Janones aparece explicando o suposto esquema.

 

O áudio foi revelado pelo portal “Metrópoles” nesta segunda-feira (27) e obtido também pelo g1. O material deve ser anexado às investigações em curso na PF e no Ministério Público Federal.

 

Segundo assessores de Janones – um que deixou a equipe após as eleições de 2022, e outro que segue no gabinete –, a gravação foi feita na primeira reunião da equipe de Janones após assumir a liderança do Avante na Câmara, em 5 de fevereiro de 2019.

 

Em quase 50 minutos de áudio, Janones se dirige aos 15 funcionários escolhidos para trabalhar na estrutura. Em dado momento, o deputado começa a discursar sobre corrupção, e se compromete a não se “corromper”.

 

A participação de Leandra Guedes

 

O esquema, segundo os denunciantes, foi se atualizando com o passar do tempo e ganhando forma na mão de Leandra Guedes.

 

De acordo com os assessores, cabia a Leandra cobrar e juntar os valores obtidos. Com a eleição à prefeitura, a responsabilidade pelas cobranças teria sido repassada a aliadas de Leandra no gabinete.

 

Algumas trocas de mensagens de Janones com integrantes do gabinete, também reveladas nas últimas semanas, mostram que ele tentou atribuir à Leandra o destino do dinheiro.

 

Mostram, também, uma tentativa de Janones de rebater o áudio de Alisson Camargos que atribuía a Leandra e ao deputado a operação do suposto esquema.

 

*Com informações do G1  

 

 

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