MPF apura denúncia desde 2021 – Foto Gilmar Felix/ Câmara dos Deputados
Assessores e ex-assessores do Deputado federal André Janones (Avante-MG) afirmam que o parlamentar operou um esquema de “rachadinha” no gabinete a partir de 2019, quando assumiu o primeiro mandato.
A rachadinha é uma prática ilegal na qual o gabinete de um parlamentar contrata funcionários, mas impõe a condição de que eles “devolvam” parte dos salários. Muitas vezes, são funcionários fantasmas, que nem vão aos gabinetes.
Segundo esses denunciantes, a prática foi adotada, pelo menos, durante todo o primeiro mandato de Janones (2019-2022).
E teria, também, sido adotada pela ex-assessora de André Janones Leandra Guedes na prefeitura de Ituiutaba (MG) – ela foi eleita prefeita do município em 2020 e levou parte dos assessores para compor sua equipe no novo posto.
Em razão do foro privilegiado de Janones, a denúncia tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) desde maio deste ano.
Janones e Leandra negam as irregularidades apontadas nas denúncias.
Leandra Guedes e André Janones em evento político, em imagem de redes sociais – Foto Instagram/Reprodução
“[…] usaram uma gravação clandestina e criminosa, um áudio retirado de contexto e para tentar me imputar um crime que eu jamais cometi. Aproveito para solicitar que o conteúdo criminosamente gravado seja disponibilizado na integra e não edições manipuladas, postada quase simultaneamente por todas as lideranças de extrema-direita”, disse Janones em uma rede social.
“Essas denuncias vazias nunca se tornaram uma ação penal ou qualquer processo, por não haver materialiade. Não são verdade, e sim escândalos fabricados. No mais, repito eu nunca recebi um único real de assessor, não comprei mansões, nem enriqueci e isso por uma simples razão, eu nunca fiz rachadinha”, prosseguiu.
“A prefeita Leandra Guedes, ex-assessora do deputado federal André Janones, informa que não tem conhecimento do conteúdo divulgado nesta segunda-feira (27) e jamais presenciou ou participou de qualquer conduta ilegal”, afirmou Leandra em nota.
Questionada pela TV Globo, a Polícia Federal disse que não poderia informar os avanços na investigação porque não comenta procedimentos em curso.
A primeira denúncia
A primeira denúncia foi feita por Fabricio Ferreira de Oliveira, que integrava o grupo político de Janones e trabalhou no gabinete entre fevereiro de 2019 e novembro de 2021.
Ao MPF em Minas, Oliveira disse que Janones recebia parte do salário de servidores comissionados lotados em seu gabinete em Brasília. O esquema seria operado pela então secretária parlamentar Leandra Guedes.
O agora ex-assessor anexou à denúncia uma gravação com outro assessor de Janones, Alisson Alves Camargos. No áudio, Alisson diz que recebia cerca de R$ 10 mil e que repassava, mensalmente, quase R$ 5 mil para “eles” – em referência a André Janones e Leandra Guedes.
“É quase cinco contos que eu passo pra eles. Nem nove mil tô tirando. Nove mil no papel, entendeu?”, diz Alisson. “É aquele mesmo esquema: dá o dinheiro pra Leandra, e ela passa pro André”, afirma em outro momento da gravação.
Novos áudios
Quando a primeira denúncia foi protocolada, os ex-assessores tinham como provas apenas conversas entre eles. Neste mês, no entanto, surgiram novos áudios que mostram o próprio deputado André Janones aparece explicando o suposto esquema.
O áudio foi revelado pelo portal “Metrópoles” nesta segunda-feira (27) e obtido também pelo g1. O material deve ser anexado às investigações em curso na PF e no Ministério Público Federal.
Segundo assessores de Janones – um que deixou a equipe após as eleições de 2022, e outro que segue no gabinete –, a gravação foi feita na primeira reunião da equipe de Janones após assumir a liderança do Avante na Câmara, em 5 de fevereiro de 2019.
Em quase 50 minutos de áudio, Janones se dirige aos 15 funcionários escolhidos para trabalhar na estrutura. Em dado momento, o deputado começa a discursar sobre corrupção, e se compromete a não se “corromper”.
A participação de Leandra Guedes
O esquema, segundo os denunciantes, foi se atualizando com o passar do tempo e ganhando forma na mão de Leandra Guedes.
De acordo com os assessores, cabia a Leandra cobrar e juntar os valores obtidos. Com a eleição à prefeitura, a responsabilidade pelas cobranças teria sido repassada a aliadas de Leandra no gabinete.
Algumas trocas de mensagens de Janones com integrantes do gabinete, também reveladas nas últimas semanas, mostram que ele tentou atribuir à Leandra o destino do dinheiro.
Mostram, também, uma tentativa de Janones de rebater o áudio de Alisson Camargos que atribuía a Leandra e ao deputado a operação do suposto esquema.
*Com informações do G1