“CHOVE LÁ FORA” por Luiz Mascarenhas

24/01/2020 | Luiz Mascarenhas

Prof. Luiz MASCARENHAS*

 Chove copiosamente sobre as barrancas de Sant’anna de Itaúna.

O universo singular que é cada ser humano-  revela-se um mundo abissal de sentimentos e emoções. Chuva. Um dia de chuva. Um dia de chuva  no recesso do lar, pode-se transformar em um saboroso momento de grandes introspeções.

O ser humano se comunica com a Natureza e esta por sua vez influencia e marca o ritmo do homem. Quando pensamos em “meio ambiente” por diversas vezes imaginamos algo fora de nós. É um engano. Um erro. Supor um planeta Terra, sozinho, despovoado de gentes e com uma imensa biodiversidade é pensar algo que quebra, separa de nós a ideia de que nós mesmos integramos esse meio ambiente. Nós, seres humanos, somos parte integrante da Natureza. Nós, seres humanos, somos parte integrante deste planeta Terra.

Tanto é verdade que –de fato- ao fenecer, o ser humano se junta à Mãe Terra de forma definitiva. Até o espírito humano perpassa pela Natureza. É como se nos misturássemos às árvores, rios, animais. Um pouco de nós fica em tudo e de tudo somos impregnados.

Uma manhã ensolarada nos anima e encoraja. Uma manhã chuvosa nos traz certa nostalgia, saudades de um tempo não vivido; ficamos mais suscetíveis às coisas da alma e um romantismo ingênuo se acomoda em nosso coração.

O Tempo reflete no mais íntimo de nós. Nas liturgias religiosas, essa ideia é utilizada amiúde. A Páscoa cristã é definida pelos equinócios. A lua cheia da quaresma católica ilumina as muitas procissões e caminhadas pelas vielas e ruas de calçamento de pedras de nossas bucólicas e históricas cidades mineiras, levando os fiéis à meditação, oração e elevação de seus pensamentos ao Eterno.

Chove lá fora. E esses sentimentos nostálgicos que caem dos céus, influenciam não somente nós, humanos. Toda a Natureza se molda ao céu em lágrimas. Cães e gatos, animais domésticos enfim, nos fitam com um semblante tristonho e ficam mais recolhidos.  Já as árvores e todo o verde, parece regozijar-se diante da chuva. Tudo se transforma em um dia de chuva; desde a rotina da dona de casa até o burburinho das grandes cidades. Em sala de aula, os alunos se acalmam, silenciam. É a chuva que dá o tom da Vida.

Chove lá fora. Chuva me inspira renovação. Renascimento. É necessário regar a Vida para que o viço não se perca. Necessário chover no coração para brotar esperanças, compreensões, saudades e uma introjeção propícia aos escrevedores de coisas.

Deixemos pois a chuva cair sobre nós. Chuva que inspira poetas, cantores, enamorados e solitários…Chuva que eternizou em nossas memórias uma cena icônica de um Gene Kelly como “Don Lockwood”, no musical americano de 1952 “Singin’ in the Rain“. Que seja sempre benfazeja e mansa a chuva que cai. Contudo, as tempestades e intempéries que a tudo destroem e carregam também acontecem em nosso interior. E depois da tempestade, vem a bonança. Ou seja, desperta a calmaria, a tranquilidade. Não sei por qual frenesi ou borrasca você passa em seu coração, mas é preciso acreditar que toda tormenta chega ao fim e lá existe o arco-íris, em multicores de vida e diversidade de emoções.

Por hora, aproveitemos as águas pluviais para lavar também a nossa alma. E aguardemos com renovada esperança a estiagem de nossa existência.

Termino com os versos de Roupa Nova: “Chuva de prata que cai sem parar/Quase me mata de tanto esperar/Um beijo molhado de luz/Sela o nosso amor…

*Bacharel em Direito / Licenciado em História pela UNIVERSIDADE DE ITAÚNA

Historiador/ Escritor/ Membro Fundador da ACADEMIA ITAUNENSE DE LETRAS/

Autor de “Crônicas Barranqueiras” e coautor de “Essências”, “Olhares Múltiplos” e

“O que a vida quer da gente é coragem”/

Cidadão Honorário de Itaúna

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