‘Em 64 não precisou assinar nada’, afirma Cid em mensagem

26/11/2024 | Brasil

 

Tenente Coronel Mauro Cid durante depoimento na CPI – Foto Geraldo Magela / Agencia Senado

 

 

Mensagens e documentos obtidos pela Polícia Federal revelam detalhes do planejamento de uma ruptura do estado democrático articulado durante o governo Jair Bolsonaro. Entre as discussões dos indiciados há, inclusive, menções ao golpe militar de 1964, que culminou em décadas de ditadura.

 

Apesar de o decreto que visava anular as eleições de 2022 ter sido preparado e despachado para análise, a falta de apoio do Alto Comando do Exército impediu a concretização do plano.

 

As investigações indicam que o movimento golpista encontrou resistência de militares-chave, inviabilizando a assinatura e execução do documento.

 

Aliados de Jair Bolsonaro (PL), então, defenderam que a falta de apoio dos comandantes não deveria ser um impedimento para o golpe.

 

“Fomos covardes, na minha opinião”, disse o tenente-coronel do Exército Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros.

 

Reprodução mensagem tenente-coronel Mauro Cid – Foto Reprodução

 

 

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, concorda. “Fomos todos, do PR [possivelmente uma abreviação do presidente da República] e os Cmt F [comandantes das Forças]”.

 

Logo depois, Cid lembra o golpe de 1964. “Em 64, não precisou ninguém assinar nada”.

 

 

Mensagem enviada por Mauro Cid inquérito da PF – Foto Reprodução

 

 

Reunião com comandantes

 

No dia 7 de dezembro de 2022, Jair Bolsonaro se reuniu com os comandantes do Exército e da Marinha, além do ministro da Defesa, para discutir a minuta do decreto.

 

Na mesma data, Mario Fernandes, integrante do grupo conspirador, enviou um áudio ao general Luiz Eduardo Ramos, conhecido como “Kid Preto”, confirmando a existência do documento: “Kid Preto, falei com o Renato, o decreto é real, foi despachado ontem com o presidente”.

 

A mensagem reforça que o plano estava avançado, aguardando apoio decisivo para ser executado.

 

Contudo, as resistências internas se tornaram um obstáculo crítico. Em mensagem de 16 de dezembro de 2022, o coronel George Hobert Lisboa afirmou que o Alto Comando do Exército estava “fechando em copas, talvez com uma maioria contra a decisão do presidente”, frustrando as intenções golpistas.

 

Apesar de pressões realizadas por figuras como Mario Fernandes e outros aliados, o general Freire Gomes e a maioria do Alto Comando mantiveram uma posição institucional, recusando-se a aderir à ruptura.

 

Sem apoio militar suficiente, Bolsonaro não assinou o decreto, e o plano foi abandonado.

 

Rasgaram o documento que o ’01’ assinou

 

Mensagens obtidas pela Polícia Federal indicam que um possível decreto golpista assinado por Jair Bolsonaro teria sido destruído por integrantes do Alto Comando do Exército.

 

Durante uma troca de mensagens entre Mauro Cid e Sérgio Cavalieri, prints de conversas com um interlocutor chamado “Riva” trazem detalhes de uma reunião entre Bolsonaro, seu vice-presidente Hamilton Mourão, e generais do Alto Comando.

 

De acordo com Riva, durante essas negociações, os generais decidiram destruir o documento assinado por Bolsonaro, que, segundo ele, poderia ser o decreto golpista. “Rasgaram o documento que o 01 assinou”, escreveu Riva, usando o apelido “01” para se referir ao ex-presidente.

 

A revelação, segundo a PF, sugere um conflito interno nas Forças Armadas, com o Alto Comando recusando-se a dar continuidade ao plano de ruptura institucional.

 

Após esse relato, os militares envolvidos na conversa passaram a atacar integrantes do Alto Comando do Exército, que se opuseram ao golpe. As investigações seguem para identificar detalhes do suposto documento e as circunstâncias que levaram à sua destruição.

 

Marinha tinha tanques na rua prontos para o golpe

 

Mensagens obtidas pela Polícia Federal revelam que o Almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, teria aderido ao plano golpista articulado.

 

De acordo com o contato identificado como “Riva”, o almirante era considerado um aliado estratégico, descrito como “PATRIOTA”. Riva afirmou em mensagens que “tinham tanques no Arsenal prontos”, indicando uma possível preparação militar para apoiar o intento golpista.

 

Em resposta, o interlocutor sugere que Bolsonaro, referido como “01”, deveria ter tomado uma atitude mais decisiva com a Marinha, afirmando que, se isso tivesse ocorrido, “o Exército e a Aeronáutica iriam atrás”.

 

As mensagens reforçam a tese de que havia articulação militar entre setores das Forças Armadas para apoiar ações autoritárias que poderiam culminar em uma ruptura institucional.

 

*Com informações PF / G1  

 

 

 

 

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