Celular e sala de aula. A mistura combina? Sim, quando usada em alguns contextos. Não, quando em excesso. E quem diz isso é um relatório da Unesco divulgado em 2023 sobre o uso de tecnologia em sala de aula. Ou seja, o que a gente aprendeu com a pandemia, de aliar internet e conteúdo escolar, agora, precisa ser equilibrado.
Na falta de uma definição geral, tem muita escola por aí estabelecendo as próprias regras: pode celular só no intervalo ou no final da aula; pode quando for fazer alguma pesquisa específica; ou não pode de jeito nenhum. E aí, o aluno se vira para dar o seu jeitinho. O que atrapalha a dinâmica da aula.
“Como os alunos se distraem, não prestam atenção, estão viciados na tela, né? Você perde ali um bom tempo da sua aula pedindo para o aluno tirar o fone, desligar o celular”.
Essa é a Fabiana Martins, supervisora pedagógica em Brasília. Mas esse problema não é exclusivo da escola onde ela trabalha não. Tanto é que a Câmara dos Deputados analisa um projeto que proíbe o uso de celulares e tablets durante a aula, nos intervalos ou no recreio.
Na Educação Infantil e nos primeiros anos da Educação Básica, o projeto proíbe até que as crianças levem o aparelho para a escola. Já os mais velhos podem levar; mas, não podem usar. E, dentro de sala, uso deve ser monitorado. Só para fins pedagógicos ou didáticos.
A iniciativa acompanha o que já é feito em outros países. Na França, quem tem menos de 15 anos não pode usar aparelhos eletrônicos na escola. Na Grécia também não. No Canadá, até pode, mas só para fins educacionais ou emergências. E, no Reino Unido, celular foi banido em várias localidades.
Aqui no Brasil, a luta de pais e adultos responsáveis deve ser grande. Luíza Polejack, mãe da Cora, diz que deu o celular para a filha para ter uma forma de contato com ela. Mas é contra o uso dele em sala de aula.
“A gente está num momento em que o celular é a vida da criança, né? E, se a gente não souber dosar isso, pode dar muito problema no futuro, tanto em questão de desenvolvimento quanto de socialização.”
E olha que a Cora, mesmo com dez anos, já é bem consciente.
“Eu não uso o celular na escola. Eu só vi uma vez, na minha escola, uns meninos que estavam com o celular no recreio. Eu achei isso meio inapropriado, porque, pelo que eu sei, o celular só pode ser usado depois que a aula acaba, quando a gente já está fora.”
Mesmo assim, se a proibição começar a valer, a mãe dela já sabe que vai ter reclamação:
“Ah, vai, mas o que há de se fazer… Eu acho que, dessa forma, é muito mais fácil até. Daí, a gente vai dosando com o tempo e vai, né, tentando mostrar o quanto isso vai ser benéfico no futuro, o não uso na escola, né?”
O projeto foi aprovado na Comissão de Educação e agora precisa ser votado na Comissão de Constituição e Justiça. Depois, ainda vai passar pelo Senado antes de virar lei.