Um hospital que salva vidas. Com 477 leitos e 2,7 mil servidores divididos em terapia intensiva e enfermarias, o João XXIII, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), completa 50 anos de atuação em abril. Nesse tempo, a unidade cresceu e hoje é reconhecida como um dos maiores prontos-socorros da América Latina, referência estadual e nacional no atendimento a politraumatizados.
Diariamente, as equipes multidisciplinares da unidade atendem, com a expertise pela qual são reconhecidas, motociclistas acidentados, pessoas atropeladas, feridas por armas brancas e de fogo, queimadas, crianças engasgadas com corpos estranhos ou com fraturas depois de levarem uma queda. A maioria chega em extrema gravidade, e sai do hospital com vida.
Para os profissionais que atuam na unidade, há diferenciais que levaram o João XXIII para esse patamar de reconhecimento. Gerente médica, Daniela Fóscolo destaca os recursos humanos de excelência como o que há de mais rico na instituição. “Temos reunidos aqui alguns dos maiores especialistas do estado, com capacidade de tratar lesões muito graves. Além disso, as equipes, tanto as médicas quanto as multiprofissionais, estão disponíveis para realizar um tratamento eficaz em um tempo muito curto”, explica a cirurgiã.
Diferenciais
O HJXXIII conta, além das equipes médicas e de enfermagem, com técnicos de várias áreas, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, servidores administrativos e tantos outros profissionais que se dedicam nos plantões.
“Desde sua admissão no hospital, o paciente é atendido de forma global, tendo ele e família todo o suporte e acolhimento necessários no encaminhamento hospitalar, seja para cirurgia, UTI ou internação, até o momento da alta”, detalha a assessora da gerência da equipe multidisciplinar, Andréa Mendes. “Muitas vezes, um hospital que possui recursos mais modernos, não consegue conciliar o trabalho de tantos profissionais com essa velocidade e de forma tão harmoniosa”, completa Daniela Fóscolo.
Protocolo
Este cenário de agilidade pode ser visto na Sala “Onda Vermelha”, localizada dentro do bloco cirúrgico, onde casos gravíssimos chegam após o soar de uma sirene e são estabilizados. Neste setor, completamente equipado para esse perfil de usuário, pacientes desenganados podem receber uma segunda chance de vida. “Quando um paciente chega à Onda Vermelha, toda a equipe já se desloca para a porta da sala. Tudo isso acontece em torno de um minuto, um minuto e meio”, conta a coordenadora do bloco cirúrgico, Janaína Rodrigues.
O gerente assistencial do João XXIII, Rodrigo Muzzi, atua na unidade desde que era universitário e se diz um apaixonado pelo hospital. Ele lembra que, com 50 anos focados no politraumatismo, a estrutura da unidade foi sendo direcionada para esse tipo de atendimento. “Nossa sala de reanimação é maior do que a de emergência de muitos hospitais”, revela.
O médico também cita a identificação profunda dos profissionais com a instituição como um diferencial. “A maioria da nossa equipe médica e de enfermagem é formada aqui dentro, então temos um entrosamento para prestar atendimento à população. As pessoas estão aqui porque amam.”, afirma Muzzi.
Daniela Fóscolo acredita que atuar em uma instituição com tamanha relevância exige grande responsabilidade. “Nosso dom é tratar o politraumatizado e múltiplas vítimas, e todo o corpo clínico abraça essa missão”, finaliza a médica.
Parceria que salva vidas
Os profissionais do HJXXIII ainda contam com grandes aliados fora da unidade. As equipes de resgate dos bombeiros e do SAMU de BH há décadas estão na linha de frente da assistência pré-hospitalar e têm o João XXIII como componente fundamental nos atendimentos de urgência.
O diretor do Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (SAMU) de Belo Horizonte, Roger Lage Alves, também iniciou o contato com a urgência e emergência dentro do João XXIII, onde realizou residência e se formou como cirurgião do trauma.
Para o diretor, o HJXXIII é a linha assistencial primordial e de referência para o SAMU, oferecendo a continuidade da assistência pré-hospitalar em tempo ótimo e com qualidade. “Quando uma ambulância do SAMU se dirige ao ‘João’, temos certeza de que o paciente será acolhido e assistido com as melhores práticas, seguindo os protocolos internacionais mais atualizados no manejo do politraumatismo”, afirma Alves.
Já a parceria com o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, fortalecida em 1994 com o sistema Resgate, se consolidou com a inauguração do heliponto do HJXXIII em 2010. Com isso, foi possível reduzir o tempo resposta do atendimento dos pacientes e a mobilização de recursos, além de estreitar o fluxo assistencial. “Quando atendemos uma vítima com aeronave, o médico de plantão no Batalhão de Operações Aéreas (BOA) já repassa o estado de saúde do paciente para as equipes do João XXIII, garantindo uma comunicação direta entre os profissionais e uma preparação antecipada por parte do hospital”, explica a tenente Laura Zaidan.
A militar ainda destaca as ocorrências envolvendo múltiplas vítimas, e como a parceria entre as instituições foi fundamental em episódios como a tragédia na Creche Gente Inocente, em Janaúba, e o rompimento da barragem em Brumadinho. “A cooperação entre os bombeiros e o HJXXIII é algo emocionante de se falar e relembrar, seja como bombeira ou como mineira”.
Atendimentos e números
O HJXXIII realiza mais de 80 mil atendimentos por ano que, em 2022, resultaram em mais de 7 mil cirurgias, 10,5 mil internações, 13,3 mil consultas especializadas e 1,3 milhão de exames realizados.
Acidentes automobilísticos, desde a fundação do hospital, trazem os casos mais graves à unidade, sendo que com o aumento da segurança dos veículos nos últimos anos vítimas que, antigamente, iriam à óbito, sobrevivem, mas chegam ao pronto-socorro com lesões muito sérias.
Cerca de 8 mil do total de atendimentos são de vítimas de acidentes de trânsito. Muitas destas ocorrências envolvem motociclistas, o segundo lugar em atendimentos no pronto-socorro – são mais de 4 mil casos atendidos por ano, sendo que mais de 3 mil são homens de 20 a 40 anos.
Estatísticas
Em primeiro lugar nos atendimentos estão as quedas: o Hospital João XXIII atende, em média, 15 pessoas por dia devido a quedas da própria altura, sendo que mulheres com idades entre 51 e 60 anos são a maioria nesse tipo de acidente.
Mais de 11 mil dos usuários atendidos são crianças de 0 a 11 anos, que chegam principalmente por motivos clínicos e ingestão ou aspiração de corpos estranhos, este o terceiro lugar de casos isolados atendidos no HPS – em 2022 foram 4.315. Acidentes como esses ocorrem principalmente em ambientes domésticos, assim como queimaduras.
Queimados e intoxicações
Quando uma pessoa sofre uma queimadura grave ou é picada por um animal peçonhento, como um escorpião, não há dúvidas – o HJXXIII é o destino para a vítima.
O Centro de Tratamentos de Queimados Ivo Pitanguy (CTQ), localizado na unidade, é o único de Minas Gerais com leitos e equipes exclusivas para tratamento de queimados de alta complexidade e a longo prazo. O CTQ atende cerca de 1,5 mil pacientes queimados por ano, sendo que mais da metade são queimados por líquido livre.
Recentemente, o CTQ vem atuando como principal referência na ampliação da rede estadual de atenção ao queimado, conduzida pela Coordenação Estadual de Atenção às Urgências e Emergências da Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG).
Já o Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Minas Gerais (CiaTox-MG) existe desde antes da construção do prédio, migrando na década de 70 para o HJXXIII.
São 25 mil casos por ano de intoxicações por medicamentos, pesticidas, animais peçonhentos. O setor contabiliza o maior número de atendimentos de intoxicações agudas do Brasil, tanto presencial quanto remoto.
Por Agência Minas