Engenheiro mineiro revela em depoimento que procurou ex-presidente para denunciar extorsão
Fonte: O Tempo.
Brasília. O engenheiro Geraldo Aurélio Feitosa, dono da empresa Cogefe Engenharia, relatou à Justiça Federal que sua companhia teria sido vítima do esquema de corrupção na Petrobras e que chegou a buscar ajuda do ex-presidente Lula, via Frei Betto, para tentar resolver o calote que tomou da estatal petrolífera por não ter pagado propina – segundo ele, a “mala preta” que foi exigida para as obras do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes), no Rio de Janeiro. O depoimento foi tomado no dia 9 de dezembro de 2016 e encaminhado em vídeo pela Procuradoria da República em Minas ao juiz Sergio Moro, no último dia 1º.
Em seu depoimento, Feitosa não dá detalhes de como teria sido o diálogo com o ex-presidente. Ele diz apenas que o petista lhe prometeu ajuda e que o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, teria indicado um diretor jurídico na estatal para ele conversar, mas tudo sem sucesso. “Pediam (ex-dirigentes da Petrobras) inclusive para ir no Lula, como eu fui, por meio de um amigo aqui de Belo Horizonte, o Frei Betto, me levou lá. Estive pessoalmente e (disseram): ‘não, vamos resolver, vamos resolver’. Aquele Paulo Okamotto disse que ia resolver, indicaram um diretor jurídico lá, e ficou do mesmo jeito”, disse.
Feitosa faz uma ressalva ao falar de Frei Betto, ou Carlos Alberto Libânio Christo, da Ordem Dominicana, amigo e assessor especial de Lula entre 2003 e 2004. “Mal sabia ele (Betto), porque o Frei Betto também era um inocente, era um frei”, afirmou. O engenheiro era réu até o fim do ano passado em uma ação penal na Justiça Federal em Minas acusado de sonegar R$ 2,2 milhões por meio de empresas de fachada com as quais sua companhia teria mantido contrato.
Segundo ele, por causa desse calote da Petrobras sua companhia teve um prejuízo contábil de R$ 65 milhões. O episódio que deu prejuízo para a Cogefe, segundo Feitosa, envolveu a obra do Cenpes. “Trabalhamos por 24 anos para a Petrobras, em todos os Estados do Brasil. Nunca tivemos o menor problema. Mas na obra do Centro de Pesquisas, na Ilha do Governador, começou tudo”, disse. “Não pagaram as medições, não liberaram, não pagaram projeto”, seguiu Feitosa.
Andrade Gutierrez. O engenheiro contou que, nesse período era recebido mensalmente pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e pelo ex-diretor de Serviços Renato Duque que lhe prometiam resolver o assunto “em breve”. Mais de um ano depois das conversas, sua companhia ainda não tinha recebido os recursos e os ex-dirigentes da estatal, atualmente condenados na Lava Jato, lhe sugeriram que a Cogefe fizesse um contrato de cessão da obra para a Andrade Gutierrez, empreiteira que participava do cartel que fraudava licitações na estatal.
Feitosa relatou que aceitou fazer o contrato, que acabou sendo assinado, e passou a responsabilidade pelas obras para a Andrade Gutierrez. Na ocasião, segundo relatou, ele pediu que fosse feito um acordo para que sua empresa recebesse o pagamento que faltava, o que nunca ocorreu. “Trocaram de interlocutor (a Andrade Gutierrez) oito vezes e nos deram uma banana, todas as canetas caíram, inclusive da Petrobras”, afirmou. “Todo mundo dizendo que ia receber, demorou oito anos isso e não aconteceu, por isso a empresa paralisou, com prejuízo contábil de R$ 65 milhões por não recebimento de medição. A condição da Andrade Gutierrez era uma, o vulgo termo aí, a mala preta”, seguiu Feitosa em seu relato.
As obras do Cenpes envolvendo a Andrade já foram alvo de denúncia na Lava Jato em Curitiba. A Procuradoria da República no Paraná denunciou em julho de 2015 13 pessoas, incluindo executivos da empreiteira por 167 atos de corrupção, no total de R$ 243 milhões. A denúncia aponta irregularidades envolvendo contratos da Andrade em oito unidades da Petrobras, incluindo o Cenpes.
Suborno. Foi no interrogatório da ação penal por sonegação de impostos que Feitosa comparou uma tentativa de suborno de um fiscal ao que teria ocorrido com sua empresa na Petrobras.