
Foto: Jornalismo Santana FM/A gestante teria que esperar vaga de outro hospital da região que tenha um CTI Neonatal para a bebê.
Gabriela Santos*
Na manhã desse domingo (25), o Jornalismo Santana FM foi procurado por uma mulher que nos relatou uma triste história que ocorreu com sua prima no decorrer desse final de semana. Ela afirma que a moça estava grávida de 29 semanas, quando na tarde da última quinta (22) a bolsa dela se rompeu.
Logo, a policlínica de Itatiaiuçu mandou a moça para Itaúna, mas ela foi informada que não “poderiam fazer nada porque o Hospital Manoel Gonçalves não tem como realizar os procedimentos para uma criança prematura”. Ou seja, ela teria que esperar vaga de outro hospital da região que tenha um CTI Neonatal para a bebê.
Segundo a mulher, até chegaram a encontrar uma vaga para a gestante no Hospital Odilon Behrens (BH) mas no hospital de Itaúna não tinha ambulância para a transferência da mesma. No domingo (25), por volta das 3h, tiveram que fazer uma cesariana às pressas já que devido a uma complicação as vidas da bebê e da mãe estavam em risco. Entretanto, como não havia recursos para uma bebê prematuro, a criança faleceu.
O Jornalismo Santana FM entrou em contato com o Hospital Manoel Gonçalves que afirmou que falta de leitos em CTIs neonatais é um problema extremamente grave na saúde pública do estado, que coloca numa situação extremamente difícil a assistência à saúde dos bebês prematuros, sobretudo no interior. Confira o esclarecimento na íntegra:
“A paciente em questão foi recebida no Hospital Manoel Gonçalves nas primeiras horas da madrugada quinta (23) com quadro de amniorrexe prematura numa gestação de 29 semanas e 5 dias (bolsa se rompeu numa gestação prematura). Como nosso hospital não possui CTI neonatal (CTI para recém-nascidos), a gestante foi imediatamente colocada na Central de Regulação de Leitos – SUSFácil, para que fosse transferida para um hospital com CTI neonatal. Neste meio tempo a gestante recebeu corticoterapia antenatal (medicação para “amadurecer” o pulmão do bebê e diminuir a chance de hemorragia intracraniana, situação que pode ocorrer em fetos prematuros), e antibióticos (para aumentar o período de latência do parto e diminuir a chance de infecções). Foram solicitados exames para rastrear possíveis infecções, foi realizado ultrassonografia obstétrica e monitorização materno-fetal constante.
Esclarece-se que nos casos de amniorrexe prematura, a conduta preconizada é manter o bebê dentro do útero até que sejam completas as 34 semanas de idade gestacional, salvo anormalidades (infecções, sofrimento fetal, prolapso de cordão umbilical, etc). Durante todo o período da internação a gestante permaneceu na Central de Regulação de Leitos – SUSFácil, para transferência.
Paralelamente a isso, a equipe médica e de enfermagem iniciou contato direto repetidas vezes em diversos hospitais com CTI neonatal do Estado de Minas Gerais (Hospital São João de Deus, Hospital Sofia Feldman, Maternidade Odete Valadares, Hospital Regional de Betim, Santa Casa de Belo Horizonte, Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, Hospital de Sete Lagoas, Hospital Júlia Kubitschek, Hospital Odilon Behrens), sendo que nenhum deles pôde oferecer a vaga devido à superlotação.
Na tarde de sábado (24/11/18) após mais um contato direto no Hospital Odilon Behrens (a Central de Leitos SUSFácil ainda não havia disponibilizado nenhuma vaga), houve esperança de transferência. Entretanto, após segundo contato, a vaga foi negada devido à constatação de superbactéria KPC no CTI neonatal daquele hospital.
Na madrugada de 25/11/2018, conseguiu-se uma vaga no Hospital de Barbacena (cidade localizada a cerca de 3 horas e meia de Itaúna). Entretanto, ainda no Hospital Manoel Gonçalves, a gestante entrou em trabalho de parto, o que é comum em casos de rompimento prematuro de membranas amnióticas. Foi necessária realização de cesariana de urgência, pois o bebê estava na posição pélvica (sentado). O bebê nasceu vivo, porém com apenas 30 semanas de idade gestacional, e infelizmente faleceu horas depois no berçário da maternidade, tendo recebido cuidados do pediatra de plantão.
Toda a equipe médica, de enfermagem e administrativa do hospital se mobilizou nos cuidados médicos a essa gestante e nas frustradas tentativas de conseguir vaga de transferência para Hospital com CTI neonatal em tempo hábil. A falta de leitos em CTIs neonatais é um problema extremamente grave na saúde pública do estado, que coloca numa situação extremamente difícil a assistência à saúde dos bebês prematuros, sobretudo no interior.
Todas as informações acima relatadas estão detalhadamente descritas em prontuário médico. O Hospital Manoel Gonçalves se coloca à disposição da família para maiores esclarecimentos.”
*Estagiária sob supervisão de Paloma Guimarães.