Minas é o 3° estado com mais ligações pedindo socorro

20/07/2023 | Minas Gerais

Para especialista, mais pessoas podem ter se sentido encorajada – Foto Pixabay

 

 

Minas Gerais é o terceiro estado com mais ligações pedindo socorro por violência doméstica no Brasil em 2022. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira 20/7, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no ano passado foram 31.908 ligações para o 190 contra 25.156, em 2021.

 

Para a professora do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) e pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, Luana Hordones, o aumento da violência doméstica e contra as mulheres pode estar ligado à expansão do discurso de ódio contra diversas minorias, principalmente, no último ano.

 

“As mulheres são muito vulneráveis a esse discurso de ódio violento que teve uma expansão nos últimos anos no Brasil, especialmente no ano passado por causa das eleições. Um ano eleitoral que teve esse discurso como instrumento político. A expansão desse discurso afetou tanto essas mulheres como outras minorias. Além da misoginia, que já é um traço da nossa cultura, os números refletem esse discurso como instrumento político-social nesse momento, no Brasil”, afirma.

 

A especialista lembra que uma das características da sociedade conservadora e do conservadorismo, de maneira geral, é evitar a mudança. “É um esforço para evitar as mudanças. Toda mudança soa perigosa para uma sociedade conservadora. Minas Gerais tem muito essa característica, de uma sociedade conservadora.”

 

No caso das mulheres, essa reação violenta contra essas mudanças sociais que estamos vivendo ocorre há algumas décadas, segundo a professora.

 

“Na história recente, nós mulheres temos lutado e experimentado mudanças em relação à nossa autonomia. É uma reação violenta contra a autonomia das mulheres. Até a pouco tempo, nós não experimentávamos autonomia com relação aos nossos pensamentos, desejos, afetos, trajetórias de vida, posicionamento político e social.”

 

Ela afirma que os homens sempre tiveram, historicamente, poder sobre a vida das mulheres. “E isso, por muito tempo, não foi questionado. Agora que as mulheres tentam construir alguma autonomia, isso é questionado.”

 

Ciclo da violência

 

Para a especialista, esse aumento de casos está ligado a dois fatores: ciclo da violência e a perversidade desse ciclo.

 

Ela lembra que as mulheres são ensinadas a andar sozinhas em determinados horários ou vestindo determinados tipos de roupa para não serem atacadas. Mas, muitas vezes, os agressores estão dentro de casa ou têm relações de afeto com essas vítimas. “Dentro das relações de afeto ou domésticas é que as mulheres deveriam se sentir mais protegidas, seguras. É justamente nesse lugar que somos mais vulneráveis à violência.”

 

Luana acredita que a pandemia dificultou as notificações desses crimes, já que as mulheres estavam confinadas em casa. Desde o ano passado, com a flexibilização, elas podem ter se sentido mais confiantes para denunciar. “Sabemos que os números aumentaram na pandemia. A flexibilização pode ter ajudado a mais mulheres procurarem ajuda, mas a violência também pode ter aumentado nesse período.”

 

Ela ressalta ainda que a sociedade brasileira normaliza diversas formas de violência. “Estamos aprendendo a nomear as violências, reconhecê-las e não naturalizá-las como parte das relações.”

 

Por Uai 

 

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