Minas tem 90% das cidades sem Corpo de Bombeiros

18/08/2022 | Minas Gerais

Casa com idoso pegou fogo em Jureia no início de julho – Foto: Corpo de Bombeiros Minas /Divulgação

 

 

Setenta quilômetros separam Santo Antônio do Monte, na região Centro-Oeste do Estado, do batalhão do Corpo de Bombeiros mais próximo, localizado em Nova Serrana, na mesma região. A chamada pode demorar até duas horas para ser atendida no município. São, ao todo, 50 fábricas de fogos de artifício e zero bombeiros.

 

Santo Antônio do Monte é uma das 767 (90%) cidades mineiras que não têm uma unidade da corporação. No entanto, o lugar tem um diferencial: cerca de 1.500 habitantes trabalham em indústrias de fogos de artifícios. Nessa quarta-feira (17), dois deles morreram após uma explosão de uma fábrica.

 

“Eles (bombeiros) demoram cerca de duas horas. Quando eles chegam, não tem mais o que socorrer. A presença dos bombeiros aqui é urgente”, afirma Roberto Gonçalves da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Fábricas de Fogos de Artifícios.

 

Na cidade, nesta época de mudança da temperatura, os incidentes costumam aumentar, já que os itens usados na confecção dos produtos reagem a essas transformações no tempo, o que pode causar combustão.

 

De acordo com o SAMU as vítimas estavam em óbito quando a unidade chegou – Foto Redes Sociais

 

 

“Seria melhor todo mundo ficar em casa. Nesta época do ano, tem barracão (local de trabalho), que pega fogo sozinho”, comenta o sindicalista. Enquanto sobrevivem a um verdadeiro barril de pólvora, os funcionários têm medo de denunciar os patrões, já que a atividade é a “força de trabalho da região”.

 

De acordo com informações do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, a instalação das unidades da corporação segue parâmetros técnicos, como a população municipal. As cidades com mais de 30 mil habitantes são elegíveis para essa instalação – Santo Antônio do Monte tem aproximadamente 30 mil, conforme informações da prefeitura da cidade.

 

“A classificação quanto à ordem de prioridade é definida a partir do Índice de Vulnerabilidade de Risco (IVR), que é calculado por meio da ponderação de características dos espaços urbanos que influenciam no risco de desastres”, afirma o Corpo de Bombeiros, em nota.

 

Mesmo sem os mais de 30 mil habitantes, a presença de uma unidade do Corpo de Bombeiros em Santo Antônio do Monte seria muito importante, conforme o prefeito Léo Camilo (Avante). Ele destaca como razões para essa relevância o porte da cidade, além de o município ser considerado a capital latino-americana dos fogos de artifício.

 

“Deveríamos ser priorizados. No que depender do município, teremos uma unidade do Corpo de Bombeiros. Qualquer incêndio nos preocupa. Temos caminhão-pipa, mas não conseguimos atender com a mesma celeridade e profissionalismo que os bombeiros”, afirma.

 

A importância da celeridade

 

Quando se fala em fogo, o tempo é mesmo algo de grande valor. Conforme explica o engenheiro de segurança contra incêndio Fabrício Nogueira. Estudos norte-americanos mostram que o tempo de resposta a esse tipo de tragédia deve ser de 7 minutos – o que, segundo ele, é uma realidade distante em todo o país.

 

Diversos acontecimentos recentes no Estado, inclusive, mostram o quanto essa falta de resposta quase imediata pode resultar em perdas e mortes. No último dia 5 de agosto, um menino perdeu a vida após a casa onde morava ter sido incendiada no distrito de Santa Maria do Baixio, em São João do Oriente, na região do Rio Doce. Na época, o tenente do Corpo de Bombeiros Luamós afirmou que, se tivesse uma unidade da corporação no local, o cenário seria diferente. “Com a guarnição do corpo de bombeiros na própria cidade, teria dado um atendimento muito mais rápido do que o deslocamento”, afirmou ele.

 

Mais recentemente, na noite da última segunda-feira (15), a cidade de Ferros, na microrregião de Itabira, na região Central de Minas Gerais, ficou sem luz após um homem colocar fogo em um ônibus, que atingiu a rede elétrica. Como o Corpo de Bombeiros está localizado há cerca de uma hora do local, quem ajudou a conter o fogo foram moradores e trabalhadores da Prefeitura.

 

“O avanço do incêndio, com o passar dos anos, está cada vez mais rápido, até pelos tipos de materiais que temos colocado em casa e nas indústrias, como mais plásticos. É uma corrida contra o tempo. Quando não há uma unidade do Corpo de Bombeiros, provavelmente não vai dar para contar com a equipe para combater o início do fogo. Muitas vezes, farão um trabalho posterior, para as chamas não se dissiparem ainda mais, como para outras residências”, diz o engenheiro de segurança contra incêndio Fabrício Nogueira.

 

O que diz o Corpo de Bombeiros

 

A capitão Thaise do Corpo de Bombeiros reconhece que o tempo é, sim, importante quando se trata de incêndios. Por isso, afirma ela, atualmente a corporação busca uma redução desse prazo de atendimento. Muitas vezes, conforme diz ela, as condições de algumas estradas podem ser desafiadoras, mas há artifícios para driblar esses impasses.

 

“Nós buscamos uma redução desse tempo, inclusive com a utilização de helicópteros”, salienta. “Estamos sempre buscando atender da melhor forma possível. Cada unidade do Corpo de Bombeiros conhece todos os municípios que serão atendidos por ela. Existe uma questão de gerenciamento e controle. As unidades fazem essa cobertura de forma estratégica. Há responsáveis por cada local”, diz.

 

Prevenção

 

Se, muitas vezes, há diversos desafios para o atendimento de ocorrências, a prevenção se torna ainda mais relevante. Professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marcelo Nero destaca que é importante ações de conscientização para evitar focos de incêndio.

 

“Vegetação muito seca pode pegar fogo com alguma ação humana, como o descarte de cigarro. Com casas próximas, as chamas podem se expandir. Em terrenos baldios, as pessoas costumam queimar diversos materiais, que podem causar um incêndio perigoso. Ações de conscientização podem evitar essas ocorrências”, salienta ele.

 

Por O Tempo 

 

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