População civil armada já supera efetivo militar — Foto Fred Magno/ O Tempo
Armada “até os dentes”. Essa é a única expressão capaz de traduzir o tamanho do arsenal adquirido pela população civil em Minas Gerais entre janeiro e novembro de 2021: 1.926 a cada hora, em média, conforme dados dados do Exército Brasileiro, obtidos pelo Instituto Sou da Paz via Lei de Acesso à Informação (LAI) e compilados por O TEMPO. Os dados acompanham outro levantamento da entidade: a população civil armada já supera o efetivo das Forças Armadas: 605.313 contra 356.281.
Em 332 dias, os mineiros adquiriram 15.351.215 projéteis, uma média de 46.238 por dia. Entram nessa conta três tipos de compras: a dos colecionadores, atiradores esportivos e caçadores (CACs); a das pessoas físicas; e as balas vendidas em varejo.
No cenário nacional, apenas entre os CACs, os brasileiros mais que dobraram esse tipo de compra em relação a 2020: 61,3 milhões contra 28,5 milhões de munições.
O tamanho da ascensão do mercado bélico em Minas e no Brasil também reflete nos registros do Exército Brasileiro para o funcionamento de novos clubes de tiro. Só na 4ª Região Militar, que compreende todo o Estado (exceto o Triângulo), foram abertos 76 estabelecimentos do tipo – a terceira maior quantidade entre as 12 regionais administrativas das Forças Armadas.
Só entre janeiro e novembro do ano passado, o Exército registrou 702 clubes de tiro, o que equivale a 38% do total de 1.802 unidades existentes no Brasil. No período, a maior parte dos CNPJs do tipo abertos aconteceu na 5ª Região Militar, que compreende os estados do Paraná e Santa Catarina: 172 estabelecimentos.
A 4ª RM, onde está Minas Gerais com exceção do Triângulo, ocupa a quinta posição entre as 12 regiões militares do Exército em três quesitos. Um deles é o total de armas com CACs. São 43.097, dessas 13.200 foram adquiridas somente entre janeiro e novembro de 2021 – 30,6% do arsenal total em apenas 11 meses.
A terceira categoria que a 4ª RM, onde está a maior parte de Minas, se destaca é no número de CPFs registrados na base de dados dos colecionadores, atiradores esportivos e caçadores (CACs). No total, 32.741 pessoas podem, legalmente, ter uma arma em Minas. Cada uma delas tem, em média, 1,3 arma à disposição.
Processo rápido e barato
Para ter uma licença como caçador, atirador esportivo e colecionador, hoje, o cidadão precisa ser credenciado no Exército. Para isso, ele precisa passar pelo teste psicológico feito numa clínica credenciada pela Polícia Federal.
Após esse passo, é necessário fazer um teste técnico com arma de fogo, que exige um curso com instrutores caso o interessado não saiba atirar e manusear o item. Depois, é obrigatório apresentar certidões negativas da Justiça Eleitoral e comprovar que não responde por processos penais.
Também é preciso informar um local adequado para guarda do acervo a ser comprado e ser filiado a um clube de tiro.
Para se tornar um CAC, a pessoa gasta R$ 100 pelo menos. A licença tem duração de 10 anos. Além de lucrar com a venda de munições, armas e cursos, os clubes de tiro fazem dinheiro com despachantes, que agilizam a aprovação da documentação junto ao Exército e à Polícia Federal.
Por O Tempo