Oxigênio acaba em hospitais de Manaus e pacientes morrem

14/01/2021 | Brasil

– Foto Douglas Magno/AFP

 

Com o aumento súbito da demanda por oxigênio e baixa oferta nos hospitais em Manaus, médicos que atuam no tratamento de pacientes com Covid-19 relatam que estão tendo que escolher quais paciente serão assistidos.

Profissionais que atuam no HUGV (Hospital Universitário Getúlio Vargas) relatam que a falta de oxigênio na unidade, que se agravou entre a madrugada e o início da manhã desta quinta-feira (14), resultou na morte de seis pacientes nas primeiras horas do dia.
Eles alertam que mais óbitos podem ocorrer ao longo do dia, uma vez que o estoque de oxigênio da unidade deve durar apenas mais algumas horas.

O mesmo pode acontecer em outras unidades, como Serviços de Pronto Atendimento e o Hospital 28 de Agosto, uma das unidades de referência para Covid-19, onde o estoque de oxigênio também não deve durar até o fim do dia, contam médicos.

A demanda por oxigênio da rede estadual de saúde, que era de cerca de 30 mil metros cúbicos por por dia em abril de 2020, no primeiro pico da pandemia, chegou a 76 mil metros cúbicos nesta quarta-feira (13).

Profissionais de saúde estão usando as redes sociais para pedir doações de cilindros de oxigênio para a população.
“A gente está sem oxigênio para os pacientes, a previsão é que acabe em duas horas. Já tivemos baixas de pacientes, então quem tiver oxigênio em casa sobrando, por favor, traga aqui para hospital”, desabafou em um vídeo o médico intensivista do HUGV, Anfremon D’Amazonas Monteiro Neto.

Outro médico que trabalha no HUGV relatou à reportagem que as primeiras horas do dia na unidade foram de tensão, após o nível de oxigênio atingir nível crítico, afetando todos os pacientes internados que utilizavam respiradores.

“Hoje é o pior dia do hospital desde o início da pandemia”, relatou o profissional, que é residente na unidade.

Ele contou que, por volta de 8h desta quinta (14), o nível de oxigênio no HUGV chegou ao ponto mais crítico, levando a óbito cinco pacientes que estavam em ventilação mecânica no CTI e um que estava internado na enfermaria.

“A situação se agravou de uma forma muito rápida. É muito complicado, porque quando a rede de oxigênio baixa, todos os pacientes sofrem ao mesmo tempo, então você acaba tendo que priorizar pelo prognóstico, temos que escolher quem vai ser assistido”, relatou.

O médico diz ainda que a escassez de oxigênio preocupa ainda mais pelo fato de o HUGV ser a unidade de saúde preparada para desafogar os hospitais de referência para Covid-19, que estão perto da lotação máxima para leitos de UTI.

Os cilindros de oxigênio doados por outras unidades, públicas e privadas, e pela própria população ao HUGV na manhã desta quinta, conta o profissional de saúde, não serão suficientes para garantir o atendimento até o fim do dia.

“Temos cilindros de oxigênio que vão durar algumas horas, mas ainda não sabemos quando a rede vai ser restabelecida”, disse.
Outra médica contou que, mesmo sem ser o plantão dela, foi para o HUGV na manhã desta quinta (14), após receber mensagens com pedidos de socorro de profissionais de saúde que atuam na unidade e ficaram desesperados com a falta de oxigênio.

A preocupação, explica ela, é com os pacientes graves, que estão na UTI com uso de respirador, equipamento que não funciona perfeitamente sem oxigênio no nível adequado.

Sem oxigênio, os pacientes precisam ser “ambusados”, ou seja, dependem de uma pessoa manusear o ambu (aparelho manual de ventilação) de forma ininterrupta.

O presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, Mauro Vianna, denunciou que a situação do HUGV está se repetindo em outras unidades de saúde da capital, onde “pacientes que precisam de oxigênio estão sendo ambusados, mantidos vivos pelo esforço dos profissionais médicos, enfermeiros e técnicos”.

Vianna afirmou que os profissionais de saúde alertaram para essa situação, que ele classificou como terrível, e defendeu uma “operação de guerra” para repor o estoque dos hospitais de Manaus antes que todos fiquem sem oxigênio.

“Transportar oxigênio de outros estados em caráter de guerra é uma necessidade para salvar vidas. E que Deus nos ajude”

Por MONICA PRESTES / FOLHAPRESS

 

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Após oxigênio acabar em hospitais, Pazuello convoca reunião de emergência

 

O Ministério da Saúde realiza uma reunião de emergência, na tarde desta quinta-feira (14/01), para tratar da falta de oxigênio em Manaus, que tornou ainda mais caótica a situação na cidade.

O número de pacientes internados com COVID-19 explodiu na capital do Amazonas e os estoques do gás zeraram nos grandes hospitais.

A Fiocruz aponta que a situação é grave e diz que os leitos de UTI se tornaram verdadeiras “câmaras de asfixia”.

De acordo com fontes ligadas ao governo, Pazuello tenta encontrar uma saída para amenizar o problema. Uma das possibilidades avaliadas é convocar ajuda em larga escala das Forças Armadas para transportar oxigênio de outros estados para Manaus ou até mesmo ampliar a transferência de pacientes da capital amazonense para hospitais em outras regiões.

Mesmo nas unidades de saúde da rede privada, a situação é grave.

De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Amazonas, o estado já tem mais de 5,8 mil óbitos confirmados pela COVID-19 e 218 mil casos registrados.

Crise no governo

A avaliação por interlocutores do Palácio do Planalto é a de que o ministro Eduardo Pazuello é um desastre na gestão da saúde.

Além de permitir que os hospitais de Manaus ficassem sem estoques de oxigênio, sem reposição, ele também teria repassado dados errados sobre o estoque de seringas e agulhas nos estados para o Supremo Tribunal Federal (STF).

A visão é de que, na ânsia de cumprir o prazo dado pelo ministro Ricardo Lewandowski, Pazuello colheu dados incompletos, o que fez com que o material guardado nas unidades da federação aparentasse ser ainda menor.

No governo, cresce o rumor de que ele poderá ser demitido pelo presidente Jair Bolsonaro caso a situação não seja contornada nas próximas horas.

 

Por Correio Braziliense

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