Confira a entrevista do deputado Rodrigo Pacheco á Tâmara Teixeira / Jornal O Tempo.
Rodrigo Pacheco, deputado federal do PMDB e terceiro colocado na última disputa para a Prefeitura de Belo Horizonte
Deputado evita fazer planos para o futuro, mas defende candidatura própria de seu partido no Estado. Sobre o governo Temer, defende mudanças na equipe e diz que a gestão peemedebista “precisa se cercar de pessoas que não sofram com problemas pretéritos.”
O senhor terminou as eleições de Belo Horizonte em terceiro lugar. Foi uma surpresa? O que pretende fazer com esse capital político em 2018?
Em um cenário que a gente começou entre o não pontuar e o 1{4f38b4b7d8b4b299132941acfb1d57d271347fbd28c4ac4a2917fcb5fee07f0b}, acabou sendo uma surpresa feliz. É difícil avaliar 2018. Tenho em mente cumprir bem o mandato, alcançar os postos que pretendo ter na Câmara, ajudar na governabilidade do país.
Que postos?
Gostaria de ser presidente de uma comissão, a de Constituição e Justiça, da qual sou vice-presidente hoje. É um sonho que tenho de presidir uma comissão na Câmara.
O senhor imagina ter mais afinidade com o Legislativo ou com o Executivo?
Nunca experimentei o Executivo. Gosto do mandato de deputado. Eu me sinto útil, principalmente na CCJ, mas pretendo, em algum momento, ocupar um cargo no Executivo, com racionalidade, enxugamento de gastos, otimização de resultados. Mas não sei qual.
Depois do segundo turno em que apoiou João Leite (PSDB), manteve contato com os tucanos?
Mantenho relação cordial com pessoas de outros partidos, inclusive, do PT. O João Leite falei logo depois da eleição para parabenizar pela campanha. Com os senadores Aécio Neves e Antonio Anastasia temos um ambiente no Congresso onde nos encontramos. Mas, sobre futuro político, absolutamente ninguém, nem no meu partido.
O senhor acha que o PMDB deve ter candidatura própria em 2018 ao Estado?
O PMDB tem que pensar sempre em ter candidatura própria ao Estado, ao Senado. Há vários nomes, vou excluir o meu, evidentemente. O vice-governador, seria natural, o presidente da Assembleia, Adalclever Lopes, e o Josué Alencar e outros.
Há duas lideranças hoje no partido, o Adalclever Lopes, mais próximo ao Pimentel, e o vice-governador, Antônio Andrade. O conflito desses dois grupos atrapalha a unidade?
Qualquer tipo de desunião atrapalha projetos. A ideia é sempre de haver unidade, mas tenho a absoluta certeza de que o PMDB estará unido a partir do ano que vem dentro da ideia de candidatura própria para 2018.
Como isso será possível?
Acho que isso em breve vai se resolver num simples sentar a uma mesa de todos os envolvidos, entendendo que o PMDB tem que ser protagonista em 2018.
Qual avaliação faz da situação jurídica e política do governador Fernando Pimentel?
A situação jurídica, desconheço e jamais opinaria sobre um processo do qual não tenho conhecimento. Sob o ponto de vista política, enxergo que ele enfrenta dificuldades em razão da penúria financeira do Estado, que não é privilégio de Minas. O governador, com a base política na Assembleia que tem, é perfeitamente possível ultrapassar essa crise.
Como avalia a diferença entre o PMDB estadual e nacional?
O PMDB talvez seja o partido que mais tenha diferenças internas. Tem o PMDB que pensa de um jeito, o que pensa de outro, um PMDB, infelizmente, envolvido em escândalos, outro que não admite escândalo. Os deputados do PMDB na Assembleia dão governabilidade ao governo do PT, que é oposição ao PMDB em nível nacional. É o comprometimento com a governabilidade do governo estadual e federal ainda que possa parecer incoerente apoiar o PT aqui, que faz oposição ao partido em nível nacional.
Muitos petistas e até peemedebistas interpretaram algumas atitudes do vice-governador como um indicativo de que ele gostaria de assumir o governo. Como vê a situação?
O que não pode acontecer é o PT em Minas querer importar a crise nacional entre PT e PMDB, hoje francamente opositores em nível nacional. Em Minas é diferente. A maior demonstração disso é a adesão dos deputados do PMDB à governabilidade do Estado. Esse discurso, até por responsabilidade, não deveria ser trazido para Minas, sob pena de constranger os parlamentares estaduais do PMDB, que não gostariam de ter o seu partido taxado como golpista. O PT precisa mudar de discurso porque está sendo, no mínimo, injusto. Sobre o Antônio Andrade, percebo que não há da parte dele qualquer tipo de gesto que possa ser interpretado como conspiração. Considero que ele também é injustiçado por alguns membros do PT.
Como vê a queda de popularidade do Temer?
Considero que ela está atrelada ao desgaste de imagem decorrente dos problemas relativos a essas delações na Lava Jato. Obviamente, isso não é problema de um governo até porque os problemas ali tratados são fatos pretéritos e, contra o passado e fatos do passado, não tem o que se fazer a não ser apurar e responsabilizar quem deva ser punido por eles. O andamento do governo nesse momento tem se mostrado de se resolver os problemas, a PEC do teto, a reforma da previdência. Mas aí vem problemas pretéritos dos personagens do governo que acabam por desgastar o governo. Então, o que o presidente Michel tem que fazer nesse momento é realmente se cercar de pessoas que não sofram esses problemas pretéritos.
Temer deveria fazer uma reforma ministerial?
Acho que ele vai precisar de uma reformulação. Obviamente, não ofendendo a presunção de inocência. Ele tem que aferir se cada um tem condição de continuar. Mas, uma reforma ministerial acho que viria bem a calhar para dar até uma demonstração de que as pessoas têm direito de se defender, mas fora do cargo.
Como fica a situação do presidente, que também é citado?
O favorece a presunção de inocência. Ele tem que se defender e, como presidente da República, legítimo porque foi alçado ao cargo em razão do processo de impeachment validado pelo Supremo, fazer as reformas necessárias e tocar o país da melhor forma possível.
Aquela foto, em que o sr. apareceu ao lado de tucanos e apoiadores do então candidato João Leite, foi uma das grandes polêmicas da eleição, o senhor se arrepende?
Não me arrependo da aliança nem da foto. Fiz absolutamente consciente, considerando que o candidato João Leite, a despeito do partido dele, era a melhor solução. Foi uma coisa natural, não visava qualquer tipo de aliança futura com o PSDB. A aproximação do PMDB com o PSDB pode eventualmente acontecer, mas não foi esse o significado, tampouco foi essa a intenção quando se fez aquela reunião. As pessoas querem interpretar que aquilo era um golpe contra Pimentel, não tinha nada disso. Se alguém pensou em provocar alguém do PT ou o governador pensou errado. Não foi minha intenção e tenho uma excelente relação com o governador.
Qual a sua expectativa para o governo Kalil; ele já anunciou o secretariado…
Desejo toda sorte do mundo para o Kalil, para que faça bom mandato, porque isso vai se refletir na cidade. Não passa pela minha cabeça desejar mal a ele, inclusive, enalteço e elogio o primeiro ato dele de redução das secretarias, que é exatamente o que eu faria se fosse prefeito. Não que não possa fazer críticas no futuro e as farei certamente.
Como o senhor vê essa disputa entre as instituições no país?
Temos que preservar a separação e a harmonia entre os Poderes: Judiciário, Executivo, Legislativo. Ao mesmo tempo, garantir a independência, da imprensa, do Ministério Público, a responsabilidade da polícia judiciária, federal, civil, valorizando cada qual, mas não pode haver uma interferência um do outro a todo instante. O que eu digo é que não se pode promover o vazamento de uma interceptação de um presidente da República, não se pode ter um vazamento de delação premiada antes de ela ser homologada. Ninguém tem o direito de descumprir uma ordem do STF, como aconteceu no Senado. Assim como o ministro, monocraticamente, não deve afastar o presidente de um Poder. Era mais prudente uma apreciação colegiada do Supremo, que, se assim decidisse, tinha se ser cumprida. Esse respeito institucional tem faltado ao país. Que se combata a corrupção, e deve-se combatê-la da maneira mais enérgica possível, mas com respeito às leis.